Páginas

24 de set. de 2012

o beijo


Depois de tanto tempo longe, a saudade era sua melhor amiga. Livros, os seus companheiros. E em um, ela encontrou sua perfeita história de amor descrita ali por outra pessoa e com outros personagens, mas ainda sim, sua história. O final, corria o risco de acontecer também: o tempo os afastou, e as brigas se tornaram frequentes. Aliás, brigas não. Chateações. Ninguém conseguia encontrar forças para discussão em meio a tanta saudade. 

Com o tempo, eles quase não se reconheciam mais, e, à medida que ela lia o livro, mais ela se identificava nas personagens. E, como de costume, anotava as passagens que mais chamavam a atenção em um papelzinho usado de um lado. Mas que o outro lado, valia muito. E esse papelzinho entrava atrás da foto. De uma das primeiras. Da primeira saída, do primeiro filme dos dois. 

Em uma de suas voltas repentinas, e talvez rápidas, ele tentou discutir. Mas a saudade era tanta, que só conseguiram ficar chateados e se aconchegar um no outro se perguntando retoricamente por que eles haviam se afastado tanto. E ela, resolveu falar:
- Você está me abandonando...
- Eu? Mas é você que não liga mais, que não escreve mais, que parece não sentir mais.
Ela, com lágrimas nos olhos, se lembrando de cada palavra que ela havia transcrito perguntou:
- Lembra do porta retrato? Aquele com uma das nossas primeiras fotos e que tem nosso apelido?
- Sim. O que tem?
- Todo o tempo que você esteve ausente, era ele que me ouvia, que lia cada palavra, e sentia cada sentimento e chegada da sua ausência.
- Como?
Ela se levantou, pegou o porta retrato e retirou a foto. Lembrando de cada detalhe desde quando se conheceram, passando pelos 'desafios' que aquele amor passou e retirou os papéis que eram tão inúteis de um lado e tão valiosos do outro. Ordenou, de modo que a melhor lembrança da vida deles e que estava no livro ficasse na frente, e as outras por uma ordem de importância que ela mesma criou. 
Entregou a ele.
Ele leu, cada uma atentamente e de alguma forma entendeu a tal ordem que ela fez.
Não se sentiu culpado, pelo contrário, sentiu a paixão que sentia por ela, florescer lá dentro. De uma forma que ele nunca havia sentido antes. 
Ela, ao seu lado, aguardava um tanto ansiosa a leitura dele, que até foi rápida.

Ele leu a última palavra. A segurou pela nuca, soltou em seu ouvido um eu te amo caloroso, que arrepiaria qualquer um. Mas era diferente. De um modo que arrepia muito mais os apaixonados. "Não me deixa mais me afastar de você. De jeito nenhum. Isso seria como desistir de um sonho" e O beijo aconteceu. Um beijo demorado, com carinho, amor e paixão. Um misto de romantismo e desejo. E esse, com certeza, diferente de qualquer outro, não foi só mais um beijo. Foi o beijo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?
Comenta e volte sempre que quiser :)